Mira foi um dos 42 Municípios do Turismo Centro de Portugal a marcar presença na Bolsa de Turismo de Lisboa.
A maior montra nacional de ofertas turísticas, que registou, este ano, um aumento significativo do número de visitantes e de destinos representados, decorreu na FIL de
A participação do Município, no dia
O espaço do Turismo Centro de Portugal acabou por ser um ponto de encontro de culturas, onde não faltou o convívio e a troca de experiências. A acompanhar o grupo esteve a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal, Dr.ª Sandra Pereira, recebida no stand pelo Dr. Pedro Machado do Turismo Centro de Portugal que se mostrou bastante agradado com a animada participação da comitiva mirense.
A Câmara Municipal de Mira agradece a participação dos Caretos da Lagoa, da AAMARG e da Confraria Nabos e Companhia.
Mira na Bolsa de Turismo de Lisboa
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MANTENDO A TRADIÇÃO
Há no concelho de Mira uma tradição secular que não se sabe quando ou como começou. Os Caretos da Lagoa saem todos os anos no Carnaval, percorrendo as ruas da localidade e do concelho para pregar partidas, conviver e sobretudo mostrar uma cultura que está a renascer após anos de esquecimento.
Em Lagoa, Mira, há registos fotográficos com mais de cem anos que mostram os caretos a desfilar nos domingos magro e gordo e ainda na terça-feira de Carnaval.
Com o rosto tapado por uma máscara, de onde sobressaem uns enormes chifres e muitas cores nas fitas que a adornam, o grupo de homens assusta as raparigas que conseguem apanhar para, logo de seguida, lhes fazer alguns mimos, pelo menos às que permitem.
Para além da “campina” (máscara), uma indumentária composta por uma saia vermelha, que alude ao pecado, e uma camisa branca, símbolo de pureza, completam a vestimenta que disfarça a identidade de quem a usa. Os caretos auxiliam-se ainda do barulho dos chocalhos ou campainhas, que usam ao peito, e de um urro característico, para intimidar e aumentar o efeito “diabólico” da “campina”.
Antigamente, a saída dos caretos realizava-se como uma espécie de ritual pagão, que traduzia a passagem dos rapazes à idade adulta. “Por esse motivo só é permitido o uso das ‘campinas’ a homens, uma alusão à virilidade mas que baralha as pessoas já que recorremos também ao uso da saia vermelha, um misto entre o humano e o diabólico, o religioso e o profano”, explica João Luís Pinho, um dos elementos do grupo que está a impulsionar a tradição na localidade de Lagoa.
Aliás, nos últimos anos, um grupo de lagonenses juntou-se para revitalizar a tradição ligada ao entrudo e aos rituais locais mas, sobretudo, fazer do careto uma imagem de marca não só na Lagoa mas também no concelho e na região.
José Moreira, João Luís Pinho, Luís Pereira e Romeu Moreira são quatro dos cerca de 30 elementos do grupo que actualmente estão a trabalhar numa espécie de secção autónoma do Lagonense Futebol Clube, já que não têm instalações próprias nem meios para avançar com os projectos que têm em mente.
“Apesar de tradicionalmente o careto sair só no Carnaval, queremos mostrá-lo para além dessa época, criar uma tradição nos jovens para que possa ser este o símbolo da nossa terra, trazer aqui turistas como acontece com os Caretos em Trás-os-Montes”, defende ainda João Luís Pinho.
Não se sabe ao certo quando surgiu a tradição dos Caretos da Lagoa já que, ao que parece, aquela é a única região abaixo do rio Ave onde existe este tipo de máscara e que só tem paralelo nos homens mascarados de algumas localidade de Trás-os-Montes, como Podence ou Lazarim.
Renascer do Careto
“Os caretos passaram por uma fase em que quase estiveram a desaparecer. Quando éramos miúdos ainda chegamos a participar e lembramo-nos de os ver sair. Mas com 15, 16 anos ainda não temos a influência necessária para continuar a tradição e houve ali um período em que se foi um pouco abaixo. Curiosamente, essa quebra na tradição dos Caretos também coincidiu com os grandes períodos de emigração dos anos 60 e 70, em que, fruto da ida dos jovens que precisavam de encontrar rendimento lá fora, se tenha perdido”, explica João Luís.
“Os caretos eram cada vez menos e chegou uma altura em que as saídas eram feitas por um grupo de cinco ou dez homens. E foi o Ti Alírio que juntou um grupo de miúdos, que na altura deviam ter entre os dez e os 14 anos, e os ensinou a fazer as ‘campinas’. Como era sapateiro tinha alguma facilidade em arranjar os materiais, e assim estimulou a revitalização dos caretos. Foi nessa altura que se começou outra vez a ouvir falar de Caretos da Lagoa”, explicam José Moreira, João Luís Pinho e Luís Pereira.
Mas foi há cerca de dois anos que o movimento do Careto da Lagoa voltou a ganhar força e com o trabalho de um grupo de pessoas que fazem também parte do Lagonense Futebol Clube passou a sair à rua para além do período tradicional do Carnaval.
Casa e estátua ao Careto
Para além de mostrar o Careto da Lagoa, o grupo tem outras ambições que passam pela criação de uma Casa do Careto, um espaço onde as tradições recolhidas ao longo dos anos possam ser preservadas e expostas ao público.
“Apesar de não termos documentos históricos que validem a tradição dos caretos, já que estamos a falar de uma população muito pobre que não se dedicava ao registo das suas tradições, temos algumas imagens e testemunhos que podem ajudar este nosso projecto”, admitem.
Por outro lado, há ainda a intenção de criar, na localidade de Lagoa, uma estátua que homenageie o Careto. “Tudo isso vai valorizar esta tradição, trazer turistas e é isso que queremos. São neste momento projectos a médio/longo prazo, mas que acreditamos que podemos concretizar”, afirmam, convictos, os defensores dos caretos.
Por outro lado, os caretos querem ir para além das saídas só na época do Carnaval.
“ É claro que queremos continuar com a tradição do entrudo, mas queremos estimular a mostra do careto de uma forma mais organizada. Já fomos ao desfile da Máscara Ibérica em Maio e estamos convidados para participar num desfile de mascarados em Zamora, Espanha, já fora desta época, para nos mostrarmos não só como caretos que brincam ao Carnaval, mas como tradição que aqui permanece e integrados nesta lógica da identidade dos caretos e da máscara ibérica para que não se perca esta cultura”, defendem.
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