Sábado, Dia Nacional dos Moinhos। A data serviu de pretexto para abrir as portas de 132 moinhos de 13 distritos। Mira não foi excepção.Fernando Laranjeiro e João Balseiro encaixam perfeitamente na paisagem. Conhecem bem a cor da manhã, o chilrear das aves, ou a dança do pôr-do-sol. Ali bem perto da praia de Mira, são eles que dão vida a dois moinhos de água. Na Lagoa, ainda se mói cereal, grão a grão, pacientemente, como se o tempo não passasse por ali. Mas passa. E o progresso - sinal do tempo - levou alguns costumes e clientes. Os dois moleiros, ainda recordam o tempo em que, não raras vezes, o trabalho os obrigou a pernoitar nos moinhos. Na década de 60, o “tempo era de fome”. As mulheres rasgavam, ainda de madrugada, o caminho estreito ladeado de sabugueiros e de amieiras. Seguiam, depois, equilibrando a farinha à cabeça, para irem fazer a broa. “Hoje não é assim,” reconhecem. E não é, de facto. Muitos moinhos portugueses, que sobreviveram até aos nossos dias, abandonaram a sua função primitiva - moer cereais - e foram transformados em espaços de turismo rural e cultural. No passado sábado, foi o Dia Nacional dos Moinhos. A data serviu de pretexto para abrir as portas de 132 moinhos de 13 distritos, para serem visitados pelos mais curiosos. Mira não foi excepção. Os moinhos da Areia (em Casal de S. Tomé), os Moinhos da Fazendeira e o Moinho do Laranjeiro (na Lagoa de Mira) estiveram abertos para quem os quisesse descobrir pela mão - e o saber - dos respectivos moleiros. Construídos em madeira tal como os tradicionais palheiros, estes moinhos assentam por intermédio de estacarias, no leito de uma das várias valas que alimentam a lagoa de Mira. Junto ao moinho do Laranjeiros, por exemplo, ainda existem pelo menos duas rodas a moer. Os moinhos de água de rodízio só se encontram naquela região e “por isso merecem que os valorizem e que promovam a sua preservação”, refere a Rede Portuguesa de Moinhos. No sábado, cada moinho teve um programa de actividades próprio com animações, demonstrações, palestras e muitas outras acções de sensibilização. Nos Moinhos da Fazendeira o cheiro do pão acabado de cozer fez-se sentir bem cedo para acompanhar o almoço regional. Onze mil moinhos a funcionar em 1961Com esta iniciativa, a Rede Portuguesa de Moinhos quis chamar a atenção para o “inestimável valor patrimonial dos moinhos tradicionais, por forma a motivar e coordenar vontades e esforços de proprietários, organizações associativas, autarquias locais, museus, investigadores, molinólogos, entusiastas e amigos dos moinhos”. Refira-se que em 1961 existiam em Portugal 11 mil moinhos recenseados a trabalhar para “farinhação”. Hoje não se sabe quantos existem, uma vez que “muitos caíram no abandono”.O propósito da iniciativa foi também “mostrar, além do valor patrimonial, o seu valor cultural e educativo”, disse à Lusa Jorge Miranda, coordenador da Rede Portuguesa de Moinhos, promotora da iniciativa.A título de curiosidade, Jorge Miranda contou à Lusa que, no final do século XVIII, cerca de 500 moinhos de vento eram responsáveis pelo abastecimento dos mercados de Lisboa, produzindo “500 gramas de ração diária por pessoa, nem mais nem menos”. Criada em Abril de 2006, a Rede Portuguesa de Moinhos está a efectuar um inventário para conhecer e preservar este património nacional reconhecido como um dos mais diversificados da Europa.
Moinhos de água cativaram visitantes
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